Muito por culpa da Covid-19, o balanço de 2020 é consensualmente negativo. Nesse contexto, 2021 era visto como o ano da esperança, com a maioria a acreditar que as carruagens da vida voltariam aos carris. Mas o difícil início faz com que se perspective um ciclo de 365 dias que, muito provavelmente, será pior que o anterior, pelo menos em Moçambique.
Às mortes provocadas pelos desastres naturais e pela guerra que grassa na província de Cabo Delgado, soma-se uma invulgar onda de mortes de figuras públicas, ligadas aos mais diferentes sectores de actividades, com particular destaque para política e artes.
Em finais de Janeiro, morreu Calane da Silva, vítima de Covid-19. Multifacetado, Da Silva era escritor, poeta, ensaísta e jornalista, tendo exercido funções de chefia na Televisão de Moçambique e no Jornal Notícias. O autor do célebre livro “Xicandarinha na lenha do mundo” morreu com 76 anos de idade.
Já antes, a 11 de Janeiro, tinha perecido o empresário e promotor musical Adelson Mourinho, conhecido nos meandros artísticos como Bang. Fundador da Bang entretenimento, é tido como um dos grandes responsáveis pela época dourada do pandza, estilo musical criado ao longo dos anos 2000. Perdeu a vida aos 41 anos, derrotado por um tumor no estômago. No mesmo mês, partiu Cadmiel Muthemba, antigo ministro das Obras Públicas e Habitação.
No dia 22 de Fevereiro, o país foi surpreendido com a notícia da morte de Daviz Simango, deixando um vazio no Movimento Democrático de Moçambique e no Município da Beira, instituições de que era presidente, mas na política nacional de forma geral. À semelhança de Bang, Simango perdeu a vida na vizinha África do sul, para onde fora evacuado quando o seu estado de saúde piorou.
No dia seguinte, seria a vez de outro político partir deste mundo, desta feita Francisco Itai Meque, antigo governador das províncias de Inhambane e Zambézia e vice-ministro da Educação. Também vítima de doença, à data de sua morte, Itai Meque era administrador não executivo da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB).
Mais recentemente, seguiram o mesmo rumo, igualmente acometidos por enfermidades, Abdul Carimo, Hortêncio Langa e Oldemiro Balói. Abdul Carimo serviu o país como presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), cargo que ocupou por sete anos. Hortêncio Langa é tido como dos nomes maiores da música moçambicana, sendo que, para lá de cantor, era escritor e docente de música na Universidade Eduardo Mondlane. Já Oldemiro Balói foi ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação entre 2008 e 2017.
A lista de figuras proeminentes que pereceram nestes primeiros quatro meses de 2021 vai longa e inclui os comunicadores Mário Ferro e Juma Aiuba, bem como a ex-presidente do Município de Chókwè, Lídia Frederico Cossa.
Não haverá, provavelmente, na jovem história de Moçambique, memória de um começo de ano tão devastador. É, definitivamente, um início para esquecer!
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